Olhão, 7 de Maio de 2008
A indústria conserveira foi, de entre todas as actividades económicas, a que foi mais decisiva para o desenvolvimento de Olhão, nos seus 200 anos de existência.
Mais do que a pesca. Esta só progrediu puxada pelas necessidades de pescado da actividade conserveira.
Depois do núcleo habitacional original de Olhão, a Barreta , toda a expansão urbana (grosso modo) tem a sua génese com a expansão da indústria de conservação de peixe e outras adjacentes, com as mais-valias obtidas pelos empresários e rendimentos dos trabalhadores melhor renumerados a serem aplicadas na construção de casas para moradia propria e arrendamento, em novos arruamentos traçados por despachados presidentes de câmara.
Tempo foi que chegaram a laborar mais de 80 fábricas, em que a mão-de-obra confluía a Olhão, de Cacela a Quarteira.
Bem diferente dos dias de hoje, que por circunstâncias diversas a I. de conservas é quase nula e a actividade piscatória anda a bater os mínimos , com os moradores a saírem diariamente aos milhares para o trabalho noutras localidades e regressarem para a pernoita.
Das antigas fábricas restam uns poucos edifícios em ruínas.
Dessa vida doutros tempos está eminente o desaparecimento dessa memória de labuta e desenvolvimento sem qualquer referência física.
A Câmara que deveria ter o dever e a obrigação de preservar essa memória histórica disse ainda recentemente não.
Quando da consulta pública do plano de pormenor da Quinta de Marim, a CDU e a APOS propuseram o aproveitamento da Fábrica do Carepinha , que ainda está para as curvas como edificação, mais o bairro operário antigo, para que aí se instalasse o Museu da Industria Conserveira, ao que a edilidade sabiamente recusou em troca de mais umas licenças de construção para o local.
Não pode morrer a ideia das propostas. O plano de pormenor como está não tem que inexoravelmente ir para a frente.
Se a Constituição, a lei mater do estado, tem mecanismos para ser alterada, não será a lei do Leal para Marim que é imutável. Basta que haja vontade política para accionar os mecanismos legais para a sua alteração.
Venham edis com essa vontade.
Enquanto tal não acontece é necessário que os materiais do Museu ainda existentes sejam inventariados e protegidos.
Ainda há poucos anos, Luciano Cativo, publicava no jornal do Olhanense matéria documental desses tempos e muita mais haverá nos arquivos de algumas fábricas no Grémio e Sindicato conserveiros.
Dos equipamentos industriais ainda deve haver alguns se por acaso não foram já exportados para a China para fazer lâminas de barbear.
A APOS tem aqui uma palavra a dizer. O que fizer merece o apoio dos olhanenses.